Muitas pessoas têm me perguntado, neste final de ano, para onde caminhará a taxa de câmbio, ou seja, se o real irá se valorizar ou desvalorizar frente ao dólar norte-americano. E sempre
costumo responder que tudo vai depender de como a economia irá se comportar nos próximos meses. Aliás, não exatamente a economia, mas sim com relação à forma como o governo irá conduzir a política
econômica, ou mais especificamente, como será a política fiscal, a política monetária e a própria política cambial.
As considerações que farei neste
texto levam em consideração que todo o ambiente econômico se manterá constante ou inalterado (coeteris paribus). Lembrando que a taxa de câmbio em um mercado livre, sem nenhum tipo de intervenção, é
formado pela lei da oferta e da demanda, ou seja, vai depender do volume de moeda estrangeira que está entrando no país e do montante de moeda estrangeira que está saindo do país a cada momento. Por exemplo, o exportador é
um ofertador de divisas estrangeiras, enquanto o importador é um demandante.
Desta forma, a previsão do que poderá acontecer com a taxa de câmbio vai depender de como os agentes econômicos
domésticos estarão se relacionando com os localizados além de nossas fronteiras. Em outras palavras, como está o ambiente externo para a compra de nossas commodities agrícolas (exportação que oferta moeda estrangeira
em nosso mercado de câmbio), ou como está a dependência das nossas indústrias com relação aos insumos de produção importados (importação que demanda moeda estrangeira no mercado de câmbio).
A partir daí, vamos destacar dez aspectos relevantes que podem afetar o comportamento do mercado de câmbio:
- Taxa de
juros Selic: o aumento da taxa de juros referencial da economia brasileira pode despertar o apetite de alguns aplicadores estrangeiros pelos fundos de renda fixa, aumentando o fluxo de divisas em direção ao país, pressionando o
câmbio para baixo;
- Leilão das concessões de rodovias, aeroportos, prospecção de petróleo
etc.: á medida que os investidores participam das concessões, sozinhos ou em parceria com empresas nacionais, estarão trazendo divisas pressionando o câmbio para baixo;
- Montadoras se instalando no país: o interesse que o mercado doméstico de automóveis tem despertado nas grandes montadores, tem feito que investimentos significativos
comecem a ser realizados, levando à entrada de capital estrangeiro (investimento estrangeiro direto), o que ajuda a puxar a taxa de câmbio para baixo;
- Empréstimos e financiamentos: a elevação da taxa de juros (Selic) eleva a taxa de juros bancária pela elevação dos custos de captação, levando as empresas, que
tem acesso ao mercado de crédito internacional, tomarem recursos fora do país a custos significativamente mais baixos, que quando internalizados, pressionam o câmbio para baixo;
- Aumento da produção e exportação de commodities agrícolas: as perspectivas de manutenção da taxa de crescimento da economia chinesa e
de outras economias importadoras de commodities brasileiras devem manter o volume exportado, o que garantirá a entrada de recursos estrangeiros que pressionam o câmbio para baixo;
- Aumento do volume de importações: uma questão que está sendo muito discutida nos dias de hoje é que o nosso modelo exportador
está próximo do seu esgotamento, ou seja, os esforços adicionais para aumentar o volume exportável, implicará necessariamente no aumento das importações de insumos, o que pressiona o câmbio para cima;
- Aluguel de equipamentos (operações de leasing): a ênfase cada vez mais crescente às obras de infraestrutura
e as características operacionais em alugar bens de capital de valor alto, como é o caso da frota aérea nacional ou das plataformas de prospecção de petróleo, junto a empresas locadoras internacionais, seus pagamentos
pressionam o câmbio para cima;
- Viagens internacionais: por razões diversas, muitas vezes uma viagem internacional,
mesmo com o real desvalorizado, ainda é mais interessante que o turismo doméstico, o que ajuda a pressionar a taxa de câmbio para cima;
- Melhora do cenário externo: á medida que os EUA e países do continente europeu começam a apresentar perspectivas de recuperação de suas economias, o especulador estrangeiro mais avesso a risco, tende
a retirar recursos de nossa economia, pressionando o dólar para cima;
- Política fiscal do governo central:
os desmandos na execução da política fiscal podem também afugentar o capital especulativo, o que também pressiona o câmbio para cima.
A partir do comportamento destes itens, individualmente falando, podemos ter a percepção quanto ao lado em que mais tende a pender a taxa de câmbio, se para baixo ou para cima., ou seja, se a moeda nacional vai se valorizar ou desvalorizar
frente à moeda norte-america.